2024/03/10

MANOBRAS NO CENTRO DE SAÚDE

Eu – que considero as redes sociais como um mal necessário – até compreendo que, por vezes, consigam ter alguma espécie de utilidade. Porque existe a possibilidade de expor algumas situações mais caricatas e até impensáveis que vamos observando no nosso quotidiano. Neste ponto permitam que "puxe dos galões" e diga, sem falsas modéstias, que até tenho algum jeito para isso. Todos sabemos que há problemas no departamento da saúde pública. O número de doentes consegue ser superior à soma das doenças e médicos disponíveis! E se nos pequenos povoados queixam-se de não haver médicos, a malta das grandes cidades queixa-se de não conseguir falar com eles! É deveras estranho, mas parece que anda tudo doente. Até aqui, nada de novo ou extraordinário. Contudo admito a minha ignorância perante o tema desta crónica. Aparentemente o fenómeno dos açambarcadores de bilhetes, seja para grandes concertos ou clássicos de futebol, chegou aos centros de saúde…

 

As vagas diárias para as consultas abertas são disponibilizadas ao nascer do dia, quando o senhor doutor ainda ressona! Dois ou três felizardos (madrugadores com saco-cama para dormir à porta do edifício) terão o privilégio de estar frente-a-frente com um médico! Os outros repetem a prova de esforço físico no dia seguinte. Mas, neste país de sabedoria laica, há sempre um génio das invenções que, pura e simplesmente, ignora o civismo e também as outras pessoas! Caros leitores pasmem-se, porque há quem esteja na fila para angariar vagas para múltiplas pessoas! Um agiota de consultas (estilo pagador de promessas) que numa única investida arranja consulta para dois ou três estarolas que não gostam nada de filas! Que conceito fantástico! Basta que encontrem um idoso (geralmente, o tipo de vítima escolhida) que durma mal e nem se importe de estar ao relento e fica garantida uma consulta para depois de almoço. Se conseguirem juntar uns trocos o pobrezito agradece. A fina sociedade deste cantinho mostra, claramente, sinais de um crescimento obscuro, maquiavélico e demasiado egoísta. Saibamos nós lidar com isso.

in "Jornal Maia Hoje" (Março, 2020)

2022/02/18

O MAL DE TODOS OS PECADOS

Os números das audiências têm vindo a demostrar que há um crescente abandono dos telespectadores em relação às emissões regulares dos canais televisivos. A televisão por cabo é a nova tendência. Sem esquecer as redes sociais (onde os Tugas desperdiçam parte das suas vidas). Seguramente reconheço utilidade em certas publicações, no entanto, em certa altura algo parece ter corrido mal. Os sentimentos negativos tomaram posse dos teclados e qualquer publicação – para além de lida às avessas – é entendida como um ataque pessoal ou vista com desdém. É necessária precaução com aquilo que se quer dar a conhecer. Até porque, este software (do Diabo) acaba de arranjar uma nova polémica…

Uns meliantes amadores resolveram assaltar uma Caixa Multibanco na União de Freguesias de Vilar e Mosteiró (Vila Conde). Sem qualquer experiencia na arte do gamanço conseguiram rebentar com o equipamento. A população, que ficou sem possibilidades de levantar dinheiro, foi a única prejudicada neste acto criminal sem precedentes. As entidades competentes resolveram o assunto colocando novo aparelho. A polémica prende-se com o dia da inauguração. Não, não é engano! Houve um dia para a inauguração oficial da nova Caixa Multibanco! A cerimónia solene contou com a presença dos autarcas da Freguesia, Elisa Ferraz (Presidente da Câmara de Vila Conde) e Bruno Miguel Ávila (Padre) que benzeu a nova maquineta depois do discurso da autarca.

Sendo o dinheiro o mal de todos os pecados, este episódio peculiar, contribui para uma discussão intensa sobre os pecados mortais. Neste pequeno gesto – de propaganda eleitoral – encontramos a luxúria, orgulho (vaidade), a ira e até a inveja… demonstrada, sem qualquer réstia de dúvida, nos comentários da população de Arcos. Até porque, tiveram a colocação de uma caixa recentemente e nenhum dos membros do executivo ou da Igreja passou por lá! Afinal, nestas coisas do dinheiro, confirma-se que há uns mais beneficiados que outros…
 

2022/02/17

O AZAR ESCONDE-SE À ESPREITA

A bola de ginástica. Existe em qualquer ginásio, mas também é o equipamento perfeito para descobrir as propriedades dos polímeros elásticos e dar trambolhões enormes. Sendo considerada actividade física – e, como tal, cansa muito – prefiro centrar as minhas atenções não para o ginásio, mas para um jantar organizado por um grupo de amigos. Sentado à mesa sei o que devo fazer! (Isto é, se não tiver à frente um faqueiro completo como se vê nas revistas que mostram a vida dos vip’s). Tudo foi organizado ao pormenor e, apesar de não ser um jantar de gala, impunha-se alguma beleza e uma higiene pessoal mais cuidada. Com algum esforço consegui cumprir os requisitos mínimos (saltei a parte do espelho meu) e aguardei a boleia. À hora marcada, por incrível que pareça, eu e alguns amigos estávamos, todos janotas, a caminho do restaurante.

O azar esconde-se à espreita e conspira para tramar a vida dos Tugas! E assim foi… Durante a viagem um dos companheiros sentiu uma terrível dor de barriga. Estando no meio de nenhum foi impossível pensar em encontrar uma casa de banho e, uma vez que o chamamento era fortíssimo, não restou outra alternativa senão procurar um pequeno canto num terreno sombrio à face da estrada apenas iluminado pela luz da Lua. Ainda teve a sorte de haver alguém com lenços de papel… Depois de terminado – e com ar rejuvenescido – juntou-se ao grupo. Apenas teve tempo de reparar que tinha agarrado ao sapato o que deveria ter ficado na vegetação! Em pânico – e já sem lenços de papel – lembrou-se daquele ditado que diz: quando se alivia um Português, seguem logo dois ou três! E, por aquilo que vi, ele deve ter sido o terceiro…
 

2022/02/16

MADE IN CHINA

Há notícias que captam a nossa atenção e nos impelem a querer saber mais pormenores. Esta é uma delas! Especialmente dedicada a todos os Tugas do Norte (que estejam a ler esta crónica). Estando abrangido pela área geográfica, é claro que estou preocupado! Caros leitores, devem sair à rua com a cabeça bem levantada e os olhos postos no céu (esqueçam lá as moedas perdidas nos passeios). Muito cuidado com a Tiangong-1! Um pedaço de sucata, do tamanho de um autocarro, que vai despenhar-se no planeta Terra mas ainda não se sabe exactamente onde. Os peritos revelaram que Portugal está na rota de colisão dos destroços desta estação espacial chinesa e pode ser o feliz contemplado. Desde 1957 que a humanidade tem preenchido o espaço com lixo enviado do nosso planeta e, segundo a lei do retorno (ou karma) o entulho, mais cedo ou mais tarde, encontraria o caminho de volta. Como acontece aos inteligentes que cospem para o ar e ficam à espera…

A estação espacial foi lançada a 29 de Setembro de 2011 tentando impulsionar a China para os níveis de uma superpotência espacial. A Tiangong-1 (que significa “Palácio Celeste”) foi a primeira estação espacial chinesa a ser lançada no espaço. No entanto, no ano passado as autoridades chinesas alertaram que tinham perdido o controlo sobre o satélite. O que vem levantar a questão sobre a verdadeira qualidade do material “Made in China”. Por ser impossível controlar as comunicações o calhau metálico está, desde então, entregue às forças atmosféricas. Sei que os signos são diferentes na China mas pelo nosso calendário a Tiangong-1 é Balança: tinha tudo para correr mal. E mais não digo… A probabilidade de causar estragos é bastante diminuta, mas existe! Há registos fotográficos da passagem sobre a Alemanha e Espanha. Ou seja, parece ter vontade de conhecer a Europa antes de se despenhar. Toda a cautela é necessária! Até porque a China fez questão de recordar que a Tiangong-2 está lá, pelo espaço, desde 2016. Tal como acontece com as bugigangas electrónicas, os chineses ficam com os créditos da invenção enquanto nós, os europeus, temos de resolver os seus problemas quando “as coisas” não correm como planeado. E sem passar na alfândega!
 

2022/02/15

NÃO MORRER DA DOENÇA...

Apesar de ser o feliz proprietário de um apartamento – que será legitimamente meu quando eu já estiver quase senil, agarrado a uma bengala e com lapsos de memória – tento usufruir ao máximo dos dias que vou riscando no calendário. Mesmo com limitações de espaço, confesso ser um admirador da vida animal e, como tal, partilho a intimidade do meu lar com um peixinho encarnado. É sossegado, não suja a casa ou necessita que o leve à rua para deixar a sua marca… nos sapatos dos mais distraídos! Contudo, é um ser vivo e exige cuidados… A vaga de frio que tem atacado várias regiões do país e respectivas habitações (tem dias que sinto que estou trancado numa qualquer arca congeladora dum talho) obriga a cuidados redobrados com o aquecimento. A minha cozinha parece localizada em pleno Alasca! Chego a pensar na questão de alterar o registo da minha casa: uma parte em Matosinhos, a outra no Alasca. Pelo menos pouparia na questão do Imposto (IMI). E nem preciso de verificar qual a taxa aplicada lá! O pobre peixe também sofreu com o frio. O termómetro da água indicava 17ºC! Quase dez graus abaixo da temperatura ideal. Ou seja, o meu peixe corria risco de hipotermia! Ou congelado vivo! Seja como for, algo tinha de ser feito para evitar aquele cenário de terror no aquário de 5 lts. Imbuído no espírito de socorro, iniciei a minha jornada para salvar a vida do pobre guerreiro de água estagnada.

Descobri, nas lojas de especialidade, que a tendência actual é ter aquários de tamanho XXL. Ou seja, um parolo como eu – que tem um quadrado pequeno que o peixe quase nada com o rabo de fora – sente-se imediatamente envergonhado e sem encontrar aquilo que procura: uma resistência térmica para aquecer a água. A solução mais óbvia foi, certamente, recorrer à sapiência e qualidade das lojas chinesas. Comprei um aparelho destinado a aquários de 100 litros. Vinte vezes superior ao que necessitava. No entanto, senti que algo tinha de ser feito pelo peixe. Morrer enregelado não é digno! Se bem que assado, não parece melhor... Dois minutos depois de ligada e colocada na água, a resistência resolveu estourar! Dezenas de pedaços de vidro explodiram em redor do peixe que, alheio ao que se passava, continuava a passear. «Pronto! Foi desta que matei o peixe!» Foram as primeiras palavras que proferi! Também soltei uns palavrões mas, para manter a decência, prefiro não especificar… Asseguro que o peixe não morreu. Escusam alertar as autoridades competentes ou os serviços sociais. Apesar de toda a minha disponibilidade e boa vontade – e tremenda dose de aselhice – cheguei à conclusão que a solução foi mudá-lo de lugar. Geralmente a solução mais simples é a mais acertada. Vá se lá saber porquê, raramente se coloca em prática. Arrisco-me, sem dúvida, a dizer que o pobre não morreu da doença… mas, caramba, quase virava defunto com a cura!
 

2022/02/14

PARA A MINHA ESPOSA

Se escrever que estás casada com um escritor famoso, de certeza que vais soltar duas ou três gargalhadas. Sei que não o fazes com má intenção, mas porque sabes que a fama – estatuto tão procurado pelos mortais – é efémera, relativa e tão difícil de conseguir. Tenho dois mil amigos no Facebook e, certamente, mais de metade já seleccionou a opção “não seguir” em relação ao meu perfil. Não os censuro. Por vezes, nem eu próprio me aturo… Muitos dizem não saber o dia de amanhã. Confesso que fico preocupado com isto, acredita! Se me perguntarem (e sendo hoje Segunda-feira) vou responder que amanhã é Terça-feira! Isto é básico e está num rectângulo de papel, ao qual chamam calendário. Impossível é saber o que vai acontecer. Já muitos tentaram adivinhar, mas sem qualquer sucesso! (lembras-te do Zandinga e do Nhaga?!). Mas imagina que, por um acaso, consigo arranjar um conjunto de leitores – idêntico aos do José Sócrates – que façam disparar o volume de vendas superando o Pedro Chagas Freitas. Será que podes parar de rir?!

Escrevo esta carta para te informar que, se tal acontecer, sabes que vou ser assediado e perseguido por mulheres lindíssimas, estilo actrizes de cinema – e não pelas velhas decrépitas que me enviam mensagens nas redes sociais. Sei que não será pelos meus atributos físicos, porque já os tenho actualmente e ninguém me persegue. Esqueci-me das operadoras de call-center, mas será que as posso incluir na estatística?! Sei que estás comigo por amor e nada mais. Até porque tens conhecimento que o raio do extracto bancário vem sempre a vermelho e com vários avisos (nada simpáticos) do gestor de conta. O raio do homem farta-se de pedir dinheiro! Temos uma história de vida simples. Um conto de fadas de baixo orçamento. Restaurante de luxo – com um faqueiro completo em cima da mesa – não está no nosso horizonte. Para além de necessitar de um manual de instruções, teria de utilizar todo o meu plafond no cartão de crédito e, posteriormente, fraccionar o pagamento em vinte e quatro vezes! Sem juros! Também dizem que a comida gourmet não presta. Será preferível continuar a comprar frango assado no restaurante aqui perto…

Um homem não é de ferro e, sinceramente não me recordo do que fiz há nove anos atrás. É certo que nunca estive na América ou em discotecas tão bem frequentadas como aquela do Ronaldo. Lembro-me de ter estado em Tui para comprar rebuçados. Nada mais. Também sabes que a minha primeira noite, fora de casa, foi passada contigo. Para mim, foi inesquecível. Acordei sobressaltado, à procura do comando, para desligar o ar condicionado e ainda consegui bater com a cabeça na mesinha-de-cabeceira! No entanto, sabes que o estrelato atrai gente mal-intencionada e até são capazes de inventar relacionamentos que nunca tive! Razão pela qual escrevo este manifesto. Minha querida, podes ficar descansada. Jamais serás perseguida pelos órgãos de comunicação social (ou pelo Correio da Manhã) para entrevistas ou comentar escândalos do teu marido. Até porque, para tal acontecer, é necessário subir a escada do sucesso rumo ao estrelato. E eu tenho dias que nem os degraus da entrada do prédio consigo subir…
 

2022/02/11

DIALECTOS DA CARTEIRA

Música. Não é para qualquer um. Mas isso não impede que qualquer um tente realizar um dos sonhos mais pretendidos, ser cantor. Mas, antes de arriscar numa carreira será melhor procurar ajuda dos cantores mais experientes… Em Outubro de 2016, os habitantes de Terras Tugas (que assistiam ao programa do Manuel Luís Goucha) ficaram estupefactos com a actuação da Maria Leal. Nome desconhecido até então. O vídeo da sua actuação tornou-a num fenómeno da Internet, arrecadando mais de três milhões de visualizações no YouTube, em menos de um ano. O mesmo período que fez disparar a venda de aparelhos auditivos…

Dois anos depois, o canal televisivo Sic resolveu emitir um programa sobre a sua ascensão meteórica rumo ao estrelato, passando pela principal fonte de rendimento: o seu marido. Aliás, o foco do programa incide sobre ele. Francisco D’ Eça Leal, nascido vinte anos depois da cantora. Um jovem fragilizado com registos de esquizofrenia e com sérios riscos de ficar paraplégico, depois de se ter atirado de uma janela do Hospital Julio Matos. Herdeiro de uma fortuna avaliada em um milhão de euros viu a cantora entrar na sua vida com promessas de amor eterno com cartões de crédito! Em três anos, este amor tórrido fez desaparecer grande parte da herança. Francisco, que ainda continua oficialmente casado, viu desaparecer o seu grande amor, três imóveis e todo o dinheiro. Vive sozinho, com a ajuda da mãe e da Santa Casa da Misericórdia. O pobre Francisco ainda não tem a noção do que se passou. Parece um viajante do tempo que ainda não se apercebeu em que ano está! Diz acreditar na justiça. A mesma que não consegue intimar a cantora para se apresentar em tribunal por desconhecer o seu paradeiro. Bastava aceder à página do Facebook para descobrir quais as cidades que ela vai infernizar brevemente! A justiça tem limitações, temos de aceitar! Penso que o único interveniente feliz desta história é o dono da loja de artigos chineses, no qual, a cantora gastou mais de 1.500 euros! Penso que, com tanto dinheiro, o homem fechou a loja, rumou à China e reformou-se!

Os dialectos da carteira têm dias assim! O amor platónico pode ser mais curto que uma viagem de táxi. Não há limites para a ganância humana e, mesmo sem qualquer talento ou atributos físicos extraordinários, a sua carreira continua. Tem fãs espalhados por todo o nosso país. Conseguiu mediatismo à custa do oportunismo, falta de escrúpulos e herança choruda. Contudo, nesta parte final da crónica, ainda não decidi se devo culpar a atitude activa da cantora, ou a extrema passividade e ignorância do rapaz! De qualquer forma, a vida continua e um programa de televisão – que dignificou a imagem do Ribeiro Cristóvão – já não tem a capacidade de conseguir parar um país. A indignação é efémera e, certamente, muitos dos que estão a ler já se esqueceram do que viram. Abençoadas redes sociais e programas matinais! Volta Zé Cabra, que estás que perdoado…